segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O QUE É PRAGMATISMO ?

Pragmatismo e Neopragmatismo

Campo metafísico: a experiência

• Podemos apostar que tudo no mundo é material (da ordem do físico). Ou podemos apostar que tudo no mundo é espiritual (da ordem do pensamento). Ou, ainda, podemos querer optar por dizer que o mundo comporta o espiritual e o material.

• Quando adotamos a primeira aposta, podemos ficar incomodados com a idéia de que teremos de fazer do pensamento uma forma do físico, ou manifestação do físico. Quando ficamos com a segunda aposta um incômodo equivalente surge, pois não conseguimos nos convencer que tudo no mundo é, de certo modo, da ordem do pensamento. Bem, a terceira opção seria a mais razoável. O que é pensamento é pensamento, e o que é físico é físico. Acabaram-se os problemas? Claro que não. Aqui também há um incômodo: surge a dúvida de se somos capazes de explicar como que ocorre a relação entre o físico e o pensamento. Começamos com a célebre glândula pineal de Descartes e a partir daí vamos de explicações em explicações que, cada vez mais, explicam menos.

• O pragmatismo surgiu no momento em que essa terceira opção começou a nos parecer um caminho pouco promissor. Afinal, qual o benefício em se dizer que o mundo é feito de uma coisa ou outra, ou de ambas? Qual a razão para nos mantermos fiéis à idéia de que o mundo tem de ser feito de uma substância? Por que Aristóteles teria de ainda estar vigente, com o conceito de substância, martelando nossas cabeças? Não seria melhor antes mudar de pergunta do que ficar tentando encontrar uma resposta para uma pergunta já desgastada?

• O pragmatismo veio exatamente com essa proposta: vamos parar de achar que o mundo tem de ser feito de uma substância, vamos tomar o mundo segundo uma idéia menos atávica. Ele pode ser aceito como um conjunto variável de relações. Ora, relações? Sim – só relações! Em vez de falarmos de coisas, vamos falar de relações. Podemos continuar usando os termos que até então estávamos usando, um tanto reificados como pedra, homem, terra, leão, computador, amor e frauda. Claro, não vamos abandonar de uma hora para a outra nossa linguagem, que é nosso pensamento. Mas podemos imaginar que cada uma dessas “coisas” é um feixe contingente de relações.

• Assim, quando fazemos isso, nos libertamos da idéia de substância – algo perene, imutável, que seria o núcleo de cada coisa – e passamos a viver com a idéia de que tudo está em contínua mudança segundo as relações que vão se estabelecendo. Essas relações podem ganhar nomes diferentes, segundo o campo que recortamos para conversar, falar, estudar ou investigar. Um desses nomes é “experiência”.

• Pragmatismo vem de pragma, que vem de prasso, que quer dizer “prática”, “feito”, “façanha” e similares (e que origina também a palavra práxis). Ora, o que é considerar a prática e o feito senão considerar a experiência? Experiência é exatamente isso: o que se monta conjunturalmente pela prática, feito, façanha – práxis. Assim, o mundo é um conjunto de relações, ou, falando de outro modo, um conjunto variável de experiências. Caso o homem queira tirar as melhores maneiras de se conduzir no mundo, ele que entenda essa característica racional e prática do mundo, ele que dê atenção para a experiência. Esta foi a novidade do pragmatismo.

Campo epistemológico: o método para a verdade.

• Um caminho (inicial) para termos em mãos algo que se possa chamar de conhecimento é o de aceitar a definição de Platão; chamaríamos conhecimento a “crença verdadeira justificada”. Nessa acepção, para ter em mãos crenças que sejam conhecimento é necessário ter também enunciados verdadeiros. Tendo isso em mente, William James definiu o pragmatismo como um “método para a verdade” antes que uma “teoria da verdade”.

• A verdade é um qualificativo que podemos dar a determinados enunciados. Os lógicos e epistemólogos dizem que podemos ser correspondentistas e dizer que um enunciado X é verdadeiro se e somente se ele corresponde ao fato que descreve. Ou então que podemos ser coerentistas e dizer que um enunciado X é verdadeiro se e somente se ele é coerente com outros enunciados (verdadeiros) que dizem respeito ao que ele trata. Por sua vez, James disse que o pragmatismo não tinha que optar por uma ou outra postura desse tipo, e sim apenas mostrar como que um investigador sério deve agir se quer ter conhecimento. Um investigador sério jogaria suas fichas de aposta no enunciado que, diante da experiência – do investigador e de outros –, fosse aquele que estivesse mais cotado como candidato a ser verdadeiro. Assim, estaríamos levando a experiência em consideração, de modo a não jogar fora a prática da vida e na vida, a cada investigação científica ou corriqueira.

Os pioneiros: a diferença na acepção de experiência.

• Charles Peirce (1839-1914), William James (1841-1910) e John Dewey (1859-1952) foram os três estadunidenses que criaram o pragmatismo enquanto uma escola filosófica. As diferenças nucleares entre eles apareceram exatamente na noção de experiência.

• Peirce tendeu a considerar a experiência como experimento, dando ênfase para a prática controlada, como a que se faz em laboratório. James tendeu a ver a experiência como experiência de vida, em um sentido psíquico – vivência, como poderíamos dizer. Dewey chegou a uma noção mais ampla, tomando a noção de experiência como experimental e vivencial, além de dimensioná-la historicamente.

• Por isso mesmo, em Dewey um enunciado verdadeiro passou a ser aquele apresentado como um forte candidato a ser aprovado diante da “assertibilidade garantida”. O que é? Assertibilidade garantida é a propriedade de um enunciado de ser uma afirmação com o máximo de garantias possíveis – sendo que sabemos que toda garantia é válida apenas dentro de um tempo e de um lugar.

O neopragmatismo

• Os neopragmatistas – Richard Rorty (1930-2007) e Hilary Putnam à frente – passaram a considerar como elemento central da experiência a linguagem. Mas não a tomaram como um código pré-instituído. Caso assim fizessem estariam tratando a linguagem segundo uma visão essencialista, contrária à postura pragmatista. Eles a tomaram como comunicação.

• Resumindo ao máximo: os neopragmatistas aprenderam com a filosofia analítica a dar a devida importância à linguagem, mas entre dizer que nos comunicamos por causa de que possuímos a linguagem ou somos usuários de alguma linguagem por causa de que nos comunicamos, ficaram com esta última acepção. Desse modo, endossaram uma perspectiva mais próxima da do segundo Wittgenstein e do pragmatista americano que dominou a cena da filosofia analítica em meados do século XX: Willard Van Orman Quine (1908-2000).

• Por isso, buscaram trazer Donald Davidson (1917-2003) para as fileiras do pragmatismo. Davidson foi o filósofo que, a partir de Quine, insistiu na idéia de que a linguagem não é um clube ou um partido ao qual nos filiamos, ela é um ser vivo em evolução darwiniana, que é feito e reconstruído sem direção predeterminada, e o que conta para tal é a nossa imaginação em comunicação.

Por: Elmo Freitas
Referências: http://portal.filosofia.pro.br/

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