sexta-feira, 30 de março de 2012

RESENHA - Livro: Preconceito Linguístico


BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico – O que é, como se faz. Ed. Loyola, 50ª edição. São Paulo, SP. 2008, Pág. 23 – 89.



O livro “Preconceito Lingüístico” do autor Marcos Bagno trata de questões relacionadas ao modo de como se fala e escreve dentro da escola e da sociedade. Com objetivo de tornar o seu livro um instrumento de combate a toda forma de preconceito adentrado em situações com perfis diversificados no contexto social brasileiro.
Na obra, o autor faz reflexões sobre alguns aspectos do uso da norma culta, detalha exemplos impregnados a convivência real dos sujeitos, caracterizando-os em classes, e fazendo menção ao fato dos modos encontrados. O capítulo está organizado oito mitos:
No primeiro mito, “o Português do Brasil apresenta uma unidade surpreendente”, o autor mostra o quanto este pode ser prejudicial à educação porque ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma lingüística como se fosse, de fato, a língua comum a todos os habitantes do País.
No mito dois, “brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem português”, Bagno faz uma longa análise levando em conta a história desses dois países e desmistifica mais esse preconceito. Para o autor, a mistura de raças teria variado a lingüística brasileira.
No mito três, “português é muito difícil”, segundo Marcos Bagno, o português é difícil porque, em muitos casos, foge da realidade de como o sujeito fala.
No mito quatro, “as pessoas sem instrução falam tudo errado”, é comentado que na visão do preconceito linguístico, qualquer manifestação da língua fora do triângulo escola-gramática-dicionário é considerada errada.
No mito cinco, “o lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”, para o autor este  é um mito sem nenhuma fundamentação científica, uma vez que nenhuma variedade, nacional, regional ou local seja intrinsecamente ” melhor” , ” mais pura” , ” mais bonita” , ” mais correta” do que outra.
No mito seis, “o certo é falar assim porque se escreve assim”,  é comentado no texto que, por conta, da variação que acontece em toda comunidade linguística, toda língua não é falada do mesmo jeito em todos os lugares, e nem do mesmo jeito o tempo todo. Existem os sotaques da cada região que permitem que a mesma palavra falada em todo o Brasil possa ser pronunciada de forma diferente devido a esse fenômeno.
No mito sete, “é preciso saber gramática para falar e escrever bem”,  o autor fala que essa afirmação é inerente entre os professores de português, e também divulgada em gramáticas normativas, porém não condiz com a realidade.
No oitavo e último mito, “o domínio da norma-padrão é um instrumento de ascensão social”, Marcos Bagno  diz que o domínio da norma culta/padrão não resolve os problemas econômicos, e questiona: “se realmente a norma-padrão fosse responsável pela ascensão social, ocupantes do topo da pirâmide social, econômica e política, seriam os professores de português, afinal, quem tem mais domínio da norma-padrão do que eles?”
Deste modo, podemos compreender que o preconceito lingüístico é alimentado diariamente em todos os setores da sociedade, principalmente pelas mídias. A forma pela qual as pessoas se comunicam gera grande entráves no cotidiano, e é neste contexto que Marcos Bagno sugere que temos de combater o preconceito lingüístico recusando os velhos argumentos que visam desprezar o saber  individual. No entanto, devemos entender que respeitar o modo que cada um fala e escreve não significa que temos que vulgarizar a língua. Devemos saber que para cada situação há um modo pela qual devemos nos expressar, isto é, saber diferenciar os ambientes formais e não-formais.

Verisnalda Costa

domingo, 7 de agosto de 2011

Processos Educacionais: Considerações sobre o Aprender e o Ensinar

A educação como prática social relaciona-se intimamente com dois processos: o ensino e a aprendizagem.


Encontramos frequentemente o uso dessas palavras no meio educacional, na qual o “ensino” é representado pela figura do professor, e a “aprendizagem” pela figura do aluno, constituindo, assim, o principio básico da escola. No entanto, Paulo Freire (2005) denunciou que “essas expressões são compatíveis com o que define uma “concepção bancária” de educação e não permitem o desenvolvimento de uma ‘prática educacional’ adequada”.
Desta forma, podemos compreender que esses termos ainda se encontram intrínsecas à concepção educacional tradicionalista, na qual o individuo é um sujeito passivo e o educador o detentor do saber.
Ainda sobre as definições para o “ensino”, bem como para a “aprendizagem”, Skinner (1972, apud Kubo e Batomé, 2001), comentou que:
a maior parte das definições são meras ficções verbais, convenções vazias que não se referem ao que acontece e sim aos efeitos que o uso desses termos tem sobre os ouvintes (outro tipo de “acontecimento” diferente daquele a que se referem as palavras utilizadas).
Assim, as discussões sobre ensino-aprendizagem devem ser refletidas de forma mais aprofundada, não levando apenas em consideração questões cognitivas, todavia indagando-se sobre qual o propósito do ato educativo, a quem serve, para que serve e como serve a prática de direcionar o saber formal. Acreditamos que uma das grandes preocupações que o docente deve ter em seu contexto educativo é o questionamento em torno daquilo que está lecionando, se parte realmente das necessidades bio-psico-sociais dos seus alunos.
Rego (2002, p.98) reafirma a teoria Vigotskiana, quando enfatiza a condição do sujeito produtor do conhecimento enquanto sujeito ativo em sua relação com o mundo e com os objetos cognoscentes, não reduzindo-se a mero receptor.
Portanto, entendemos que a prática educativa deve contemplar como fator preponderante, a realidade social em que estão inseridos todos os atores do contexto educativo, levando sempre em consideração os conhecimentos-prévios que os mesmos detém; sendo a escola a mediadora entre o saber prévio e o saber sistematizado. É importante que o processo de ensino possibilite a apropriação dos conteúdos e da própria atividade de conhecer, favorecendo assim a uma educação coletiva, na qual todos são sujeitos ativos no processo de assimilação dos saberes.

domingo, 5 de junho de 2011

Um olhar sobre a Educação de Jovens e Adultos - EJA

"A alfabetização de jovens e adultos deve ser considerada não apenas como forma de integrar o indivíduo ao mundo das letras, mas sim que o mesmo faça uso social e possa integrar-se socialmente, agindo de forma ativa e reflexiva."


A educação de Jovens e Adultos (EJA) se insere dentro de um contexto social, na qual objetiva a continuação dos estudos de pessoas que não tiveram oportunidade ou abandonaram os estudos em idade regular. Com uma proposta didático-metodológica diferenciada, esta modalidade de ensino propõe através de alternativas educativas uma melhor assimilação e compreensão no processo de ensino-aprendizagem.
Prevista na Lei de Diretrizes Bases da Educação, n° 9394/1996, Artigo 37, a EJA é definida, garantindo a todos um ensino de qualidade, acessível e inclusivo.

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada aqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
§ 1º. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos da idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º. O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

Sabemos que desde a primeira Constituição Brasileira (1824), diversos pontos falam à respeito da Educação de Jovens e Adultos, porém, entre os grandes entráves que essa modalidade de ensino teve durante décadas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, é que garante o maior acesso, permanência e inclusão a todos que não tiveram oportunidade ou não terminaram os estudos na idade própria.
Desta forma, a Educação de Jovens e Adultos fomenta uma possibilidade que pode favorecer um caminho para o desenvolvimento de todos os indivíduos, de todas as faixas etárias. Compreender esse processo educativo é uma grande responsabilidade social e educacional, cabendo ao docente, no seu papel de mediar o conhecimento, ter uma base sólida de formação.
A vulnerabilidade social das pessoas jovens e adultas, surge nesse contexto, como a necessidade de buscar o retorno ou a inserção escolar, depreendendo-se em muitos casos de fatores, como, a presença constante de um mundo cada vez mais globalizado que exige, entre outros fatores, uma visão crítica e aberta aos mais diversos meios comunicativos, bem como a extinção do analfabetismo.
A alfabetização de jovens e adultos deve ser considerada não apenas como forma de integrar o indivíduo ao mundo das letras, mas sim que o mesmo faça uso social e possa integrar-se socialmente, agindo de forma ativa e reflexiva. Para isso é necessário alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita
A questão do processo da alfabetização de adultos fora da faixa etária passa por alguns mitos que precisam ser quebrados, como o preconceito social de que essas pessoas não conseguem desenvolver um aprendizado que satisfaça e que supra as necessidades da contemporaneidade. Nesse contexto, é importante que o educador tenha o aprendiz como indivíduo, ser humano, e não como “aquele que não sabe.” De acordo com Pinto (2003, pág. 91): a definição do analfabeto (definição autêntica) tem que ser estabelecida em termos de necessidade ou não de saber ler, e de nenhum modo pelo fato exterior do simples desconhecimento. Com isso, podemos dizer que o ato do retorno ou da inserção na escolarização, parte do principio da necessidade de subsistência do individuo quando atende a uma sociedade voltada ao mundo do trabalho.
Muito embora, nas últimas décadas os estudos acadêmicos e as ações governamentais e não-governamentais tenham se intensificados acerca da EJA, ainda há muito o que fazer por esta modalidade de ensino, como por exemplo, criar estratégias para a diminuição da evasão escolar, que é bastante acentuada nesse contexto, bem como qualificar melhor os educadores para trabalharem de forma em que possam estimular os alunos a compreender a educação como o “único meio de libertação”, assim como desenvolver nos educandos o hábito da prática da leitura e da escrita.
A educação deve ser o processo através do qual o indivíduo consiga fazer a história com suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma. E o docente deve acreditar no educando e, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as conseqüências de sua escolha. Entretanto isso não será possível se continuarmos avaliando os alfabetizandos com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende (FUCK, 1994).

domingo, 17 de abril de 2011

Um olhar sobre a deficiência auditiva

Nós, enquanto seres humanos somos sujeitos a diversos fatores externos e internos que podem proporcionar grandes entraves em nossas relações sociais e profissionais. Hoje uma das grandes discussões se dá sobre as políticas públicas educacionais inclusivas de pessoas com necessidades especiais no ensino regular.

Neste sentido, abordaremos no presente trabalho um melhor conhecimento sobre a pessoa com surdez, passando pelo contexto histórico; preconceitos; definição, tipos e fases de surdez; comunicação entre surdos; atendimento especializado; aparelhos auditivos; até, as leis, atuais, que garantem o acesso e permanência do individuo com deficiência auditiva na instituição educativa. Também destacaremos as polêmicas, conquistas e desafios que envolvem as pessoas com tal deficiência.

Para refletir, propomos a leitura de “O mito da caverna”, que se faz presente na obra “A República”, de Platão:

(...) homens vivendo numa caverna cuja entrada se abre para a luz em toda a sua largura, com um amplo saguão de acesso. Os habitantes desta caverna têm as pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não podem mudar de posição e olham apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede. Bem em frente da entrada da caverna existe um pequeno muro da altura de um homem e, por trás desse muro, se movem homens carregando sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. E lá no alto brilha o sol. A caverna também produz ecos e os homens que passam por trás do muro falam de modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna (...). Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seria o som real das vozes emitidas pelas sombras.

Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se freqüentemente tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmeras hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou limitado. Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro. Primeiramente, ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de todas as outras coisas.

Mas ele se entristeceria se seus companheiros da caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E, então, eles o desprezariam(...).

Relacionando O Mito da Caverna com as pessoas surdas, podemos dizer nas entrelinhas que os mundos que separam esses indivíduos e aqueles ditos normais, precisam unir-se e transformar-se em um único mundo, o mundo das oportunidades iguais, do acesso à todo tipo de informação e participação mais efetiva nas decisões politicos-sociais. Para isso, faz-se necessário a quebra dos mitos e (pré)conceitos que ainda estão inseridos na sociedade, em geral.

Desta forma, esperamos que todos tenham, nas próximas páginas, um real e significativo aprendizado sobre a surdez. Pois, não basta apenas incluir, temos, sobretudo, que conhecer e reconhecer essa deficiência como processo que precisa ser melhor trabalhada, principalmente, na escola. Afinal, para que haja inclusão do aluno surdo é necessário que as pessoas envolvidas no processo educacional façam um esforço, no sentido de se livrarem de modelos pré-determinados de homem, de entenderem a importância de que o aluno realize suas próprias elaborações, que compartilhe suas dúvidas, suas descobertas e seu poder de decisão. (Guarinello et al, 2006.)

1. A SURDEZ ATRAVÉS DOS TEMPOS

De acordo com alguns estudos, percebemos que a surdez já “foi vista por diferentes anglos” através dos tempos. Ao longo dos séculos grandes “batalhas” foram conquistadas até que o reconhecimento e respeito das pessoas surdas fossem garantidos .

No antigo Egito, os surdos eram venerados como deuses. Para aquele povo, os surdos serviam como mediadores entre os deuses e o Faraó, na qual eram respeitados e temidos por todos.

Porém, nem sempre foi assim. Na maioria dos outros países, as pessoas com surdez eram tidas como uma aberração da natureza, maldição lançada pelos deuses. De acordo com o site Surdo.org,

Na antiguidade chinesa os surdos eram lançados ao mar. Os gauleses os sacrificavam ao deus Teutates por ocasião da Festa do Agárico. Em Esparta os surdos eram jogados do alto dos rochedos. Em Atenas eram rejeitados e abandonados nas praças públicas ou nos campos.

Os surdos não eram considerados seres humanos competentes. Diziam que sem a fala não se desenvolveria o pensamento. Aristóteles falava que a linguagem era o que dava condição de humano ao indivíduo.

Para os Romanos, os surdos que não falavam não tinham direitos legais, não podiam fazer testamentos e precisavam de um curador para todos os seus negócios. Eram considerados incapazes de gerenciar seus atos, perdiam sua consição de ser humano e eram confundidos com o retardado.

A igreja católica até a Idade Média acreditava que os surdos não tinham almas, por isso, não poderiam ser considerados imortais porque esses cidadãos não podiam falar em sacramentos.

Desta forma, percebemos o quanto as pessoas com surdez sofreram durantes séculos, na qual nem o reconhecimento como seres humanos tinham. Continuando, o mesmo site diz que os primeiros educadores surdos apareceram na Espanha, no século XVI, entre eles estão,

É na Espanha do século XVI que encontramos os primeiros educadores surdos.

Bartolo Della Marca D´Ancona - Advogado e escritor do século XIV faz a primeira alusão à possibilidade para que o surdo possa aprender por meio da Língua de Sinais ou Língua Oral.

Século XVI encontramos a primeira referência às distinção entre surdez e mutismo, no livro "De Inventione Dialéctica" de Rodolfo Agrícola (1528).

Girolamo Cardamo (1501-1576), médico italiano, declara que os surdos podiam e deviam receber uma instrução. Interessou-se pelo estudo do ouvido, nariz e cérebro porque seu filho era surdo.

Ponce de Léon (1520-1584) Monge benedetino (Onã, Espanha), considerado o primeiro professor de surdos na história e cujo trabalho serviu de base para diversos outros educadores surdos - o verdadeiro início da educação do surdo. Educava filhos de nobres que nasciam com problemas auditivos porque, se fossem os filhos primogênitos e não falassem, não receberiam a herança.>

Juan Pablo Bonet - Filólogo e soldado a serviço do rei se interessou pela educação de um surdo. Luis de Velasco, irmão do capitão-geral do exército. A família de Velasco tinha uma história de surdez familiar e Ponde de Leon foi responsável pela educação de alguns dos descendentes de Luis de Velasco. Sua família deve ter apresentado algumas das técnicas de trabalho de Leon, inclusive o alfabeto manual que usava Bonet se apropriou de alguns desses métodos. Em 1620 Bonetpublica "Reducion de las Letras Y Arte para Enseñar á Hablar los Mudos" em que o alfabeto manual era usado para ensinar a ler e a gramática era ensinada por meio da Língua de Sinais. É o primeiro livro sobre educação de surdos que consiste no aprendizado do alfabeto manual e da importância da intervenção precoce. Ele insistia em que as pessoas envolvidas com uma criança surda fossem capazes de utilizar o alfabeto manual.

Rodrigues Pereire (1715-1780) Tinha fluência na Língua de Sinais, mas defendia a oralização. Utilizava os sinais para instruções, explicações lexicais, conversações com alunos até que pudessem se comunicar oralmente ou pela escrita - nunca publicou seus métodos. Usava diariamente o alfabeto manual.

Outras pessoas que tiveram grande importância na história dos surdos neste período foram : Johann Conrad Amman, John Wallis, Thomas Braiswood, Abée de L' epée.

Dando continuidade na cronologia, chegamos a uma fase importante na história, na qual aconteceram estudos mais aprofundados sobre a deficiência.

1790 - Abbi Card é nomeado diretor do Instituto Nacional de Surdos-Mudos (Paris) no lugar de L' Eppe. publicou dois livros : uma gramática geral e um relato detalhado de como havia treinado Jean Massieu (surdo). Massieu se tornou um famoso professor e começara a enfrentar as acusações do oralismo alemão.

1814 - Jean Marc Gaspard Itard, médico cirurgião se tornara médico residente do Instituto Nacional de Surdos Mudos (Paris). Estudou com Philipe Pinel, seguindo os pensamentos do filósofo Condillac, para quem as sensações eram a base para o conhecimento humano e que reconhecia somente a experiência externa como fonte de conhecimento. Dentro desta concepção eras exigida a erradicação ou a "diminuição" da surdez para que o surdo tivesse acesso a este conhecimento.

Vale destacar que esse último pesquisador, Jean Marc, para poder ter um maior conhecimento sobre as causas da surdez,

Dissecou cadáveres de surdos; Aplicou cargas elétricas nos ouvidos dos surdos; Usou sanguessugas para provocar sangramentos; Furou as membranas timpânicas de alunos (um aluno morreu por este motivo); Fraturou o crânio de alguns alunos; Infeccionou pontos atrás das orelhas dos surdos. (Surdo.org).

Como podemos observar, grandes atrocidades foram cometidas tentando descobrir ou justificar as possíveis causas da surdez.

Entretanto, a partir de século XX, mesmo com muito preconceito, as condições para a população surda começa a ter um novo horizonte, como fala Perlin, 1998.

Toda a argumentação do sucesso do oralismo começou a desintegrar-se. A partir dos estudos sobre cognição e linguagem se soube que os surdos filhos de pais surdos conseguem um grau mais rápido de aprendizagem. Ali nasceu o bilingüismo, ou seja, a idéia da utilização de duas línguas na educação dos surdos. (Perlin, 1998. Pag. 53)

No entanto, como sabemos o bilingüismo que vigora hoje é, dentro de uma perspectiva ouvintista, uma interpretação errada sobre a questão das identidades e da cultura surdas.


2. COMPREENDENDO A SURDEZ

Poderíamos conceituar “surdez” como aquele individuo que possui baixa ou nenhuma audição. Porém, conceituar surdez requer uma compreensão que não é tão simples quanto parece ser. Segundo Skliar (1998),

a surdez constitui uma diferença a ser politicamente reconhecida; a surdez é uma experiência visual; a surdez é uma identidade múltipla ou multifacetada e, finalmente, a surdez está localizada dentro do discurso sobre a deficiência. (Skliar, 1998, p.11. Apud , Inácio, 2009)

A deficiência auditiva pode ser de nascença ou adquirida com o passar dos tempos de acordo com a vida que leva o sujeito, ou seja, fatores externos ou internos também podem contribuir significativamente para a perca parcial ou total da audição. A surdez, que também é conhecida como “hipocusia”, pode surgir durante a gravidez, causada por viroses e doenças tóxicas ou adquirida por ingestão de remédios que lesam o nervo auditivo, como por exemplo, meningite e outras doenças.

Para entendermos melhor a deficiência auditiva, devemos ressaltar, que “há, entretanto uma enorme disparidade quanto às perdas auditivas, que vão desde perda auditiva leve, moderada, grave e profunda, essas diferenças também devem ser discutidas e analisadas em seus vários aspectos para compreensão da surdez.”(Inácio, 2009). Na qual,

Perda Auditiva Leve: A incapacidade de ouvir sons abaixo de 30 decibéis. Discursos podem ser de difícil Audição especialmente se estiverem presentes ruídos de fundo.

Perda Auditiva Moderada: A incapacidade de ouvir sons abaixo de cerca de 50 decibéis. Aparelho ou prótese auditiva pode ser necessária.

Perda Auditiva Grave: A incapacidade de ouvir sons abaixo de cerca de 80 decibéis. Próteses auditivas são úteis em alguns casos, mas são insuficientes em outros. Alguns indivíduos com perda auditiva severa se comunicam principalmente através de linguagem gestual, outros contam com uso das técnicas de leitura labial.

Perda Auditiva Profunda: A ausência da capacidade de ouvir, ou a incapacidade de ouvir sons abaixo de cerca de 95 decibéis. Tal como aqueles com perda auditiva severa, alguns indivíduos com perda auditiva profunda se comunicam principalmente através de linguagem gestual, outros com uso das técnicas de leitura labial. (Portal Brasil Media, acesso em 10 de março de 2011)

Como já pudemos perceber, a surdez é uma deficiência invisível nos primeiros meses de vida, portanto é importante o acompanhamento médico durante toda a gestação, como também o exame que é popularmente conhecido como teste da orelhinha nos recém-nascidos.

2.1 – Aparelhos auditivos

De acordo com o Portal Aparelhos Auditivos e CIA, “O aparelho auditivo é um dispositivo eletrônico que tem a função de amplificar as ondas sonoras, de forma que uma pessoa com perda de audição possa ouvir os sons que nos circundam.
Ele é composto de um microfone que capta as ondas sonoras e as transforma em informações eletromagnéticas. Estas informações são amplificadas por um microcircuito e, após a amplificação, são novamente convertidas em ondas sonoras pelo receptor, possibilitando que o usuário deste aparelho ouça os sons de forma amplificada (aumentada).

Seu funcionamento é possibilitado pelo uso de baterias específicas para estes tipos de dispositivos, sendo diferentes para cada tipo de aparelho.

Um aparelho auditivo tem como finalidade ajudar as pessoas com uma perda auditiva a perceber os sons. Atualmente, graças ao desenvolvimento da tecnologia digital e a um design bastante avançado, é hoje possível encontrar aparelhos auditivos tão pequenos que podem ser colocados no fundo do canal auditivo – sem prejuízo da reprodução sonora, a qual é tão clara e cristalina, como a dos melhores reprodutores sonoros modernos.

Os ruídos de fundo sempre constituíram um dos maiores problemas dos utilizadores de aparelho auditivo. Os aparelhos digitais avançados são capazes de reduzir os ruídos e realçar os sons, que são importantes para compreender a fala. Este processo realiza-se automaticamente dentro do aparelho auditivo sem que o utilizador se aperceba disso.

Outros recursos também estão disponíveis nas versões mais atuais como microfones direcionais para a fala, banda estendida de freqüência, que faz com que um maior número de sons seja amplificado e até mesmo a tecnologia Bluetooth. Esta, faz conexão entre equipamentos de áudio e os aparelhos auditivos.

Molde - É importante que o molde esteja colocado corretamente e seja feito de forma a assentar da maneira mais conveniente no ouvido do utilizador, em parte para evitar dores e incômodos quando o molde estiver em uso, e em parte para obter a melhor função do aparelho auditivo. Uma forma apropriada do molde contribui para medir o fenômeno da alimentação acústica (assobios) e um canal de ventilação furado pode reduzir a sensação de ter o ouvido “entupido” ou se estar a falar “dentro de uma pipa”. Um molde que não assenta bem ou que aperta porque está mal colocado, pode numa má utilização do aparelho. Se o utilizador não for capaz de colocar o molde corretamente, necessita de ajuda.
O Molde deve ser trocado anualmente em caso de adultos e de seis em seis meses em caso de crianças.

Tubo - É importante que o tubo que liga o aparelho retro-auricular ao molde tenha um comprimento correto e que esteja limpo, inteiro e flexível. Se o tubo estiver curto o utilizador terá uma sensação de esticamento desagradável no molde e o aparelho assobia; se o tubo estiver demasiado comprido, a colocação do aparelho pode ser difícil. O tubo também pode ter um cotovelo que impeça o som de sair. Tanto o molde como o tubo deverão estar ambos limpos. O Tubo deve ser trocado de três em três meses ou quando estiver ressecado.

Colocação do molde no ouvido - A proteção ou o arco deve estar virado para trás – o tubo deve ser empurrado para cima – segura-se no arco ou na ficha e coloca-se o molde. O molde deve ser colocado de trás e ao invés. Para o assistente, o mais fácil é ficar atrás do utilizador. Pode ajudar a puxar o ouvido um pouco para trás e para cima, a fim de dilatar e corrigir o ouvido externo. Em alguns casos, o molde assenta por si próprio no devido lugar; em outros casos será necessário aparafusá-lo. No entanto, é necessário cuidado, pois o canal auditivo pode ficar dorido ou irritado.”

3. O RECONHECIMENTO OFICIAL

As primeiras discussões sobre o Bilingüismo e Educação Bilíngüe no Brasil iniciaram na década de oitenta. Na qual, foram os lingüistas, professores e estudantes de Letras (graduandos e pós-graduandos) que introduziram novos paradigmas para a Educação de Surdos. Logo, as comunidades surdas, Felipe (1988), Felipe et al (1991), por identificação, luta, transgressão, libertação, rapidamente acataram esses paradigmas e também levantaram a bandeira pela Educação Bilíngüe, tornando-se seus defensores, exigindo mudanças educacionais e a oficialização da LIBRAS, Felipe (1993), CORDE (1996).

O embate entre oralismo, comunicação total e educação bilíngüe percorria por todo o Brasil. Eventos acadêmicos, trabalhos acadêmicos, monografias, dissertações e teses apresentavam propostas e experiências.

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB – 9394/96), com o Capítulo V que fala sobre a “Educação Especial” dá o primeiro passo para a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência no ensino regular, incluindo a surdez.

Mas, só a partir da Lei 10.436 de 24 de abril de 2002, o Brasil passar a reconhecer oficialmente a Libras como a língua oficial dos surdos. De acordo com a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) no ano de 2002,

o Brasil reconheceu a Língua Brasileira de Sinais - Libras, por meio da Lei nº 10.436/2002, como a Língua das comunidades surdas brasileiras;
No dia 4 de setembro, o presidente Conade solicitou ao Ministério da Educação providências para iniciar o processo de Regulamentação da Lei nº 10.436/2002, e a Federação Nacional para a Educação e Integração dos Surdos - Feneis encaminhou sugestões para essa regulamentação;

De acordo a Lei,

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de

assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.

Como podemos perceber, a valorização, aceitação e reconhecimento da comunidade surda só começa a ganhar maior espaço no Brasil, no século XXI. Ainda, segundo a Feneis,entre 2002 e 2003,

a SEESP e a SESu e Ministério da Saúde se articularam para elaborar a Proposta de Regulamentação da Lei de Libras;
Em março, a Secretaria de Educação Especial estabeleceu contatos, via e-mail, com as seguintes instituições:
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - FENEIS;
Secretaria de Educação a Distância – SEED, do Ministério da Educação;
Secretaria de Educação Média e Tecnológica – SEMTEC, do Ministério da Educação;
Secretaria de Educação Superior – SESu, Departamento de Projetos Especiais de Modernização do Ensino Superior, Coordenação de Legislação e Normas do Ensino Superior, Departamento de Desenvolvimento do Ensino Superior, Coordenador de Relações Acadêmicas da SESU, do Ministério da Educação;
Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação de Saúde da Pessoa com Deficiência, do Ministério da Saúde;
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República.
A maioria das sugestões enviadas por essas instituições, foi incorporada à Proposta de Regulamentação que foi re-elaborada.

Mesmo com todas as resoluções, leis e campanhas educativas, ainda hoje a sociedade surda não tem seu devido reconhecimento. Sofrendo com preconceitos e falta de apoio educativo.

4. CONCLUSÃO

Como pudemos ver no decorrer do estudo, as pessoas com surdez durante séculos enfrentaram grandes batalhas de preconceitos, não sendo reconhecido até como seres humanos. A exclusão profissional e social dos surdos ainda hoje confirma que a linguagem pode ser fonte de discriminação e de organização social restritiva. Essa discriminação não ocorre apenas quando há diferenças de nacionalidade, cor, perfil socioeconômico ou religião.

Em diversos países, como no nosso, as experiências com educação bilíngüe ainda estão restritas a alguns poucos centros, dadas as dificuldades apontadas acima, e também pela resistência de muitos em considerar a língua de sinais como uma língua verdadeira ou aceitar sua adequação ao trabalho com as pessoas surdas. Assim sendo, a maioria das práticas de educação para surdos ainda hoje é oralista ou se enquadra dentro da comunicação total.

No entanto, acreditamos que o verdadeiro reconhecimento e inclusão do surdo como sujeito ativo, deve partir da própria sociedade. Sendo assim, a família como a primeira instituição social tem papel determinante sobre a formação da personalidade humana, moldando comportamentos do homem e influenciando suas relações com o meio ambiente. Ela é considerada a mais importante instituição social e sua instabilidade é causadora de uma série de crises e conflitos. É na família que o ser humano consegue sobreviver, aprender valores, desenvolver uma cultura, sentimentos de amor, amizade e afeto. Iniciam-se em seu seio os primeiros passos e os primeiros balbucios, resultando, desta forma, o início do processo de interação familiar.

Enfim, os surdos são pessoas que têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom humor nunca falham.

5. REFERÊNCIAS

GUARINELLO, Ana Cristina; BERBERIAN, Ana Paula; SANTANA, Ana Paula; MASSI, Giselle; PAULA, Mabel de. A inserção do aluno surdo no ensino regular: visão de um grupo de professores do Estado do Paraná. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382006000300003&script=sci_arttex t&tlng=ES > Acessado em 24 de março de 2011.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Disponível em: Acessado em 25 de março de 2011.

________________. Cultura dos Surdos - Deficiência auditiva. Disponível em: Acesso em 10 de março de 2011.

Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS). Disponível em: < http://www.feneis.com.br/page/materias12_13.asp > acessado em 23 de março de 2011.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF.

BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Brasília, DF.

________________ . Como funciona um Aparelho Auditivo? Disponível em: < http://www.aparelhosauditivosecia.com.br/aparelhos-auditivos- curiosidades.html > acessado em: 29 de março de 2011.